De uns poucos anos para cá, quase da
noite para o dia, se compararmos à idade do cristianismo, alguns setores da
igreja evangélica têm sido tomados de um desejo incontido de crescimento a
qualquer custo. O Movimento de Crescimento de Igreja (1) tem surgido em toda a
sua força, e o crescimento tem sido exigido a qualquer preço. Por essa razão,
uma coletânea enorme de metodologias e técnicas tem sido empregada para que o
sucesso da igreja apareça.
O mais lamentável é que o crescimento
de algumas igrejas locais tem sido conseguido às custas do sacrifício da
verdadeira doutrina e do abandono de uma liturgia sadia. Com isso, os templos e
os salões têm ficado lotados em suas reuniões. Como a evangelização moderna tem
sido antropocêntrica(voltada para o prazer do ser humano), dizendo ao ouvinte
aquilo que se pensa que o incrédulo quer ouvir, também a forma do culto tem
sido elaborada de modo a atrair pessoas para adorar a Deus. A adoração moderna
é planejada para atrair pessoas (os consumidores de música contemporânea) ao
invés de ser promovida para que as pessoas levantem os olhos para o céu para
cultuar corretamente o verdadeiro Deus. Ao invés de prepararmos pessoas para
serem membros do sacerdócio real, da nação santa, povo de propriedade exclusiva
de Deus, para aprenderem sobre o verdadeiro Deus e a vida eterna em Cristo
Jesus, estamos estimulando essas pessoas a apurarem o paladar por aquilo que o
entretenimento moderno já lhes apresentou. Antes que verdadeiros adoradores,
estamos vendo pessoas preocupadas com o consumo musical e litúrgico, querendo
ouvir o que lhes agrada, e não o que agrada a Deus.
Se perguntarmos aos proponentes do
Movimento de Crescimento de Igreja, "Por que muitas pessoas hoje não
freqüentam aos cultos?" A resposta pronta será: "porque a mensagem e
as músicas não são apresentadas ao gosto do público. Nada é feito para que o
público seja atraído aos cultos". A culpa toda recai sobre a falta de
atualização ou contextualização da adoração cristã. Então, no afã de se ter a
igreja lotada, tudo é formulado para agradar aos freqüentadores em potencial.
Esse é o método que os ministros ansiosos por sucesso logo buscam. Mas eles se
esquecem de que as pessoas não adoram a Deus porque não o amam verdadeiramente,
nem têm qualquer disposição para com o verdadeiro Deus, por causa da sua
natureza pecaminosa, que é oposta a Deus. Elas amam a si mesmas e querem ser
agradadas naquilo de que participam, quando Deus é quem deveria ser amado e
agradado no culto que lhe prestamos.
Atualmente, muitas pessoas, inclusive
membros de igreja, não estão dispostas a usar a mente, o corpo, a alma, enfim
todo o seu ser, numa congregação onde existe um sólido ensino da sã doutrina,
uma pregação expositiva fiel da Santa Escritura e uma adoração racional e
reverente. Elas preferem uma reunião em que a Palavra é deixada de lado, mas o
"louvor" é a tônica, num encontro de fato movimentado, ao paladar do
tempo presente. Não há o verdadeiro compromisso com o reino de Deus, mas ainda
assim, o crescimento da igreja é a maior preocupação do movimento que utiliza
esse nome, mesmo que seja com o prejuízo de elementos fundamentais da
verdadeira adoração e da sã doutrina.
O Movimento de Crescimento de Igreja
tem se concentrado numa forma de culto ao gosto do espírito de nosso tempo e de
uma evangelização barata, ao invés de ser o produto da obra soberana do
Espírito de Deus no meio do seu povo, e dum posicionamento correto do seu povo
para com a Palavra de Deus.
Contudo, todos os cristãos sensatos
entendem que a igreja deve crescer qualitativa e quantitativamente. Qual é,
então, o modo pelo qual uma igreja deve crescer? Precisamos de uma reforma ou
de um reavivamento?
Esta pergunta não é a forma correta de
levantar a questão. É absolutamente certo que precisamos de ambos em nossa
igreja contemporânea. Estas duas coisas têm que andar necessariamente juntas.
Do contrário, o reavivamento será um fracasso em termos de correção da verdade
e a reforma poderá ser um fracasso porque a verdade poderá ser apresentada com
aridez doutrinária. Portanto, há que se ter em mente as duas coisas para o bom
andamento da igreja de Deus no final deste segundo milênio.
Vejamos a necessidade tanto da reforma
quanto do reavivamento para o crescimento de nossas igrejas:
I. A Necessidade de
Reforma para o crescimento da Igreja
Aqueles de nós que valorizam os
acontecimentos espirituais extraordinários ocorridos durante a Reforma no séc.
XVI, anseiam tê-los repetidos na igreja do tempo presente. Juntamo-nos a J. I.
Packer que disse:
A palavra Reforma é
mágica para o meu coração, assim como estou certo que é para o de vocês. Quando
vocês falam em Reforma, imediatamente pensam naquele heróico
tempo do séc. XVI, quando muitos eventos momentâneos aconteceram e que ainda
brilham ardentemente em nossa imaginação.(2)
A Reforma foi um movimento histórico do
séc. XVI, mas ela precisa acontecer de novo, sempre que necessária, na vida da
igreja. Precisamos desesperadamente dela outra vez em nossas igrejas, porque
estamos em tempo de confusão doutrinária, tempos de vacilação teológica, tempos
de incerteza cúltica. Alguns ministros, porém, nem sequer sonham com uma
reforma novamente. Provavelmente, eles acreditam possuir razões teológicas para
essa posição.
Para tristeza nossa, o nome
"Reforma" levanta suspeitas na mente de alguns ministros que querem o
crescimento de igreja a qualquer custo, porque o nome "Reforma"
relembra um estudo sério da Palavra, compromisso inequívoco com o reino de
Deus, rompimento
com o erro e com a falsa adoração. A idéia de reforma não é bem-vinda
porque vai exigir dos ministros um estudo sério das suas posições, uma
reavaliação da sua conduta litúrgica e teológica. Foi isto que a Reforma
Protestante exigiu dos ministros de Deus no séc. XVI. E nós estamos longe daquilo
que foi proposto no passado. Não obstante a opinião deles, temos que dar uma
grande ênfase à necessidade de verdadeira reforma na vida da igreja
contemporânea. Muitas coisas da Reforma histórica já foram esquecidas e
deixadas de lado. Temos que resgatar a nossa herança Reformada e trazer de
volta as belas coisas perdidas.
Definição de Reforma
Reforma é a descoberta da verdade
bíblica que conduz à purificação da teologia. Ela envolve a redescoberta da
Bíblia como o juiz e o guia de todo pensamento e ação; ela corrige os erros de
interpretação; ela dá precisão, coerência e coragem para a confissão
doutrinária; ela dá forma e energia à adoração corporativa do Deus triúno.(3)
É disto exatamente que precisamos para
que a verdade de Deus seja honrada e o povo de Deus devidamente instruído.
Quando Lutero foi confrontado com a verdade de Deus, ele nunca mais a
abandonou. Mesmo quando ameaçado pelas autoridades religiosas do seu tempo,
apegado ao paradigma da verdade de Deus, Lutero dizia:
A menos que vocês provem para mim pela
Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei.
Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não
é nem correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa
fazer. Que Deus me ajude. Amém.(4)
O norte de uma reforma dentro da
igreja de Deus está, inquestionavelmente, relacionado à volta aos princípios
sadios de fé e prática, propostos pela Santa Escritura. A fé tem que ser
fundamentada numa consciência cativa à Palavra, para que a verdadeira reforma
aconteça em nosso meio.
Ao invés de analisarmos o evento da
Reforma do século XVI, que alguns tomam como sendo simplesmente um evento
humano, analisaremos uma reforma descrita na história inspirada da redenção,
que teve exatamente as mesmas características da Reforma do séc. XVI, porque
ambas foram causadas pelo mesmo Deus, o Espírito.
O exemplo bem claro do que acabamos de
dizer está registrado na Escritura em eventos ocorridos no tempo do rei Josias
(2 Rs 22), que passo a analisar:
A. A redescoberta da
verdade de Deus conduz à Reforma da teologia
Há períodos na vida da igreja em que a
verdade de Deus fica escondida, ocasionando aridez, sequidão e distância de
Deus. Um exemplo bem típico disto está na história da igreja do VT, nos tempos
do rei Josias. Naqueles dias, os homens andavam às apalpadelas, sem o
conhecimento da lei do Senhor, que lhes estava encoberta.
Ela estava escondida porque os homens
ignoravam a verdade da Escritura. As pessoas comuns do povo nem sabiam da
existência do Livro da Lei. E essa ausência da Palavra causa a distância de
Deus.
Ela estava escondida por
falta de interesse na Palavra. O povo ignorava a Lei de Deus porque a liderança
não estava interessada nela. ( Se voce lider não ficar interessado coitado de quem voce lidera) Se estivesse, ela
procuraria uma cópia da Lei para dar ao povo, mas não havia qualquer interesse,
da parte da classe dominante, em que as coisas fossem mudadas. A Lei de Deus,
porém, quando levada em conta seriamente, causa mudanças nos paradigmas de um
povo. Imaginem como os sacerdotes da época poderiam conduzir o povo de Israel
sem o código de fé e prática.
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